A política invadiu nossas mesas de jantar, nossos grupos de família e, infelizmente, até mesmo os bancos de nossas igrejas. Em um país tão polarizado, é impossível ficar indiferente. E, na verdade, não deveríamos. A fé cristã não é um chamado para a alienação, mas para sermos sal e luz em todas as esferas da sociedade, incluindo a cívica. Mas em meio a tanta paixão, surge uma pergunta que nossa alma precisa responder: onde termina nossa cidadania e onde começa nossa idolatria?
A urna é um lugar de responsabilidade. O altar é um lugar de adoração. O perigo mortal que assola a igreja hoje é quando, sutilmente, nós transformamos nossa urna em nosso altar, depositando nela a fé, a esperança e a identidade que pertencem somente a Deus.
Cidadãos de Dois Reinos

A Bíblia é clara ao nos instruir a sermos bons cidadãos. Em Romanos 13, Paulo nos chama a sermos submissos às autoridades governantes, pois foram instituídas por Deus. Devemos orar por elas, pagar nossos impostos e buscar a paz da cidade onde vivemos. Essa é nossa responsabilidade terrena.
Contudo, essa não é nossa identidade final. O mesmo Paulo, em outra carta, nos dá a perspectiva definitiva: “A nossa cidadania, porém, está nos céus” (Filipenses 3:20). Este é o nosso verdadeiro passaporte. Nossa lealdade suprema não é a uma nação, a um partido ou a um presidente, mas a um Rei chamado Jesus. Nossas ações aqui na terra, incluindo nossas escolhas políticas, devem ser uma consequência de nossa cidadania celestial, e não uma competição com ela. Votamos aqui, mas vivemos para lá.
Quando a Paixão Vira Ídolo
A idolatria é sutil. Ela não se anuncia, apenas se instala. Como saber se a paixão política cruzou a linha e se tornou um ídolo em seu coração? Faça a si mesmo estas perguntas, com honestidade brutal:
- A sua esperança de salvação (para o país e para a sua vida) está mais no resultado de uma eleição do que na obra consumada de Cristo na cruz? Se a vitória do “seu” candidato te traz mais segurança do que a promessa da volta de Jesus, seu altar mudou de lugar.
- Você está mais disposto a quebrar a comunhão com um irmão que vota diferente do que a lutar pela unidade que Jesus ordenou? Cristo disse: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (João 13:35). Ele não disse: “…se todos votarem no mesmo partido”.
- Sua linguagem sobre o “outro lado” é de ódio, desprezo e desumanização? Você ainda consegue ver seus adversários políticos como pessoas criadas à imagem de Deus, por quem Cristo também morreu, ou eles se tornaram apenas caricaturas do mal?
- O discurso do seu candidato ou a cartilha do seu partido se tornou mais inquestionável para você do que a própria Bíblia? Quando as Escrituras confrontam sua agenda política, quem vence em seu coração?
Então, Como Agir?

Se os sinais de alerta acenderam, não se desespere. O chamado é ao arrependimento e ao realinhamento. A cidadania celestial não nos anula, mas nos qualifica a agir na terra de forma redentora:
- Ore pelas autoridades: É uma ordem bíblica, não uma opção (1 Timóteo 2:1-2). Ore por sabedoria e justiça para os governantes, quer você tenha votado neles ou não. A oração muda a atmosfera e guarda nosso coração da amargura.
- Busque a justiça do Reino: Use seu voto e sua voz para apoiar princípios que refletem o caráter de Deus — a defesa da vida, o cuidado com os pobres e vulneráveis, a honestidade, a verdade e a retidão (Miquéias 6:8). Faça isso com base em princípios, não em mera lealdade cega a uma sigla.
- Seja Sal e Luz: Nosso maior impacto político não é um adesivo no carro, mas uma vida de integridade, amor e santidade que aponta para um Reino superior. O mundo não será convencido pelo nosso argumento político, mas pelo fruto do Espírito em nós.
- Proteja a Unidade da Igreja a todo custo: Lembre-se que na mesa da comunhão, onde celebramos o corpo e o sangue de Cristo, não há direita nem esquerda. A cruz que nos une é infinitamente maior e mais importante do que qualquer bandeira que possa nos separar.
Nossa Esperança Não Cabe Numa Urna
A política é importante. Ela pode mudar leis, melhorar a vida das pessoas e frear o mal. Mas ela é limitada. A política pode mudar um governo, mas só o Evangelho de Jesus Cristo pode transformar um coração humano. Nossa esperança não é um plano de governo de quatro anos; nossa esperança tem um nome, reina de um trono eterno e voltará para buscar Sua noiva, a Igreja.
A pergunta final que a Bíblia nos faz é: “Onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mateus 6:21). Que nosso tesouro esteja firmemente guardado no céu. Assim, nosso coração estará em paz, mesmo em meio ao caos político da terra. A urna é um dever, mas nunca, jamais, será nosso altar.
Como você tem lutado para manter Cristo no centro em meio à polarização política? Compartilhe nos comentários uma forma como Deus te ajudou a amar um irmão que pensa diferente de você.