Todos nós, em algum momento, já nos sentimos definidos por um rótulo. Fracassado. Rejeitado. Insuficiente. Para um homem chamado Onésimo, seu rótulo era um dos piores possíveis no Império Romano: escravo fugitivo. Sua história poderia ter terminado em punição severa ou esquecimento, mas um encontro improvável em uma prisão e uma pequena carta de uma página deram início a uma revolução silenciosa. A história de Onésimo nos mostra que, no Reino de Deus, ninguém está tão perdido que não possa ser encontrado, e nenhum rótulo é mais forte que a identidade que recebemos em Cristo.
O Rótulo de “Escravo Inútil”

No mundo romano, um escravo era uma propriedade. Eles não tinham direitos, nome próprio (muitas vezes) ou futuro. O nome de Onésimo, ironicamente, significa “útil” ou “proveitoso”. No entanto, ao fugir de seu senhor, um líder cristão chamado Filemom, Onésimo se tornou o oposto de seu nome. Legalmente, ele era um ladrão — pois roubou a si mesmo de seu mestre — e um criminoso. Ele era, aos olhos da sociedade e de seu dono, inútil.
Fugindo, provavelmente para a imensidão de Roma na tentativa de desaparecer na multidão, Onésimo não encontrou a liberdade que buscava. Encontrou, na verdade, a forma mais profunda de cativeiro: o medo, a solidão e a incerteza. Foi nesse beco sem saída, no fundo do poço, que Deus providenciou um encontro que mudaria tudo. Ele cruzou o caminho de outro prisioneiro: um homem chamado Paulo, encarcerado não por um crime, mas por causa de Cristo.
Um Encontro que Muda Tudo
Dentro dos muros de uma prisão, o verdadeiro liberto (Paulo) pregou o Evangelho ao homem aparentemente livre, mas escravizado pela sua condição (Onésimo). E ali, na fraqueza e na obscuridade, Onésimo nasceu de novo. A transformação foi tão profunda que Paulo o chama de “meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões” (Filemom 1:10).
Observe a mudança radical de identidade. Onésimo deixa de ser “propriedade de Filemom” para se tornar “filho de Paulo no evangelho”. Sua identidade não estava mais em seu status social, mas em sua posição espiritual. É aqui que Paulo faz um brilhante jogo de palavras: “Ele, que antes lhe foi inútil, agora é útil, tanto a você quanto a mim” (Filemom 1:11). Sua utilidade não vinha mais de seu trabalho forçado, mas de sua nova natureza em Cristo. Ele se tornou verdadeiramente “Onésimo” (Útil) quando encontrou Cristo.
A Carta que Desafia um Império

Paulo poderia ter mantido Onésimo com ele, mas ele sabia que a reconciliação era necessária. Então, ele toma uma decisão ousada: envia Onésimo de volta para Filemom. Mas ele não o envia de mãos vazias. Ele o envia com uma carta que é uma obra-prima de amor, tato e teologia prática.
Nessa carta, Paulo não usa sua autoridade de apóstolo para ordenar. Ele apela com base no amor. E o pedido é revolucionário, algo que abalaria as estruturas sociais de Roma: “para que você o recebesse de volta, não mais como escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado” (Filemom 1:16). Em uma cultura construída sobre hierarquias rígidas, o Evangelho criava uma nova realidade: uma família onde mestre e escravo agora eram irmãos, com o mesmo Pai e o mesmo valor. Para completar, Paulo faz uma proposta que ecoa a própria obra de Cristo: “se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta” (Filemom 1:18). Paulo se coloca como mediador, assumindo a dívida de Onésimo, assim como Cristo assume a nossa dívida de pecado.
Por que Onésimo é um de Nós?
A história de Onésimo é poderosa porque, em essência, é a nossa história. Nós também éramos escravos do pecado, fugitivos de Deus. Em nossa busca por autonomia, nos tornamos “inúteis” para o propósito para o qual fomos criados. Vivíamos com uma dívida impagável. Mas, em Cristo, tivemos um encontro que mudou tudo. Fomos encontrados, perdoados e adotados. Deus nos recebe não como servos medrosos, mas como filhos amados. Ele não olha para nossa antiga condição, mas para a justiça de Cristo, que foi “posta em nossa conta”.
Reflexão Final
A jornada de Onésimo — de propriedade a pessoa, de escravo a irmão, de fugitivo a família — é o Evangelho em miniatura. Mostra que a obra de Cristo não é apenas uma teoria sobre o futuro, mas uma força transformadora que invade nosso presente, quebrando as correntes sociais e relacionais que nos aprisionam. Ele nos liberta de nossos rótulos e nos dá um novo nome, escrito na palma de Sua mão.
“Que ‘rótulo’ o Evangelho já quebrou na sua vida? Ou a quem você é chamado a enxergar ‘não mais como…’, mas como um ‘irmão amado’ em Cristo? Compartilhe nos comentários!”