A gente quer Jesus. Mas, se formos honestos, também queremos um emprego estável, uma casa arrumada, saúde em dia e o mínimo de sofrimento possível. Queremos a paz de Cristo, mas também a paz de uma conta bancária positiva. E nesse cabo de guerra silencioso, uma pergunta perigosa começa a se formar no fundo da alma: até que ponto eu preciso abrir mão do meu conforto para seguir a Jesus?
Mas e se essa for a pergunta errada? E se o chamado do Evangelho não for para melhorar a sua vida confortável… mas para terminar com ela de uma vez por todas? A verdade é que existe uma tensão enorme entre o evangelho do sofá, que busca o nosso bem-estar, e o Evangelho da Cruz, que exige a nossa vida.
A Sedução do Conforto: O Evangelho do Sofá

Nossa cultura é viciada em conforto. Queremos soluções rápidas, vida sem dor, sucesso sem esforço. E essa mentalidade vazou para dentro da igreja, criando um “cristianismo light”, perfeitamente ajustado para não incomodar. É um evangelho que fala muito de bênçãos e pouco de renúncia. Promete vitória sem luta, coroa sem cruz, ressurreição sem morte.
É o tipo de fé que nos transforma em consumidores de sermões e músicas que nos fazem sentir bem, mas que raramente nos desafiam a mudar. O problema é que um evangelho que só serve para nos deixar confortáveis é, na verdade, um tranquilizante espiritual. Ele nos acalma em nosso egoísmo e nos vacina contra o chamado radical de Jesus, nos tornando complacentes quando deveríamos estar mobilizados.
O Chamado Radical à Cruz
Quando abrimos a Bíblia, o conforto do sofá pega fogo. As palavras de Jesus não são sugestões para uma vida melhor; são termos de rendição incondicional. Ele não diz: “Se for conveniente, siga-me”. Ele diz: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz diariamente e siga-me” (Lucas 9:23).
Vamos quebrar isso. “Negar a si mesmo” não é fazer dieta ou pular uma série. É a abdicação do “eu” do trono da sua vida. É olhar para suas ambições, seus direitos, seus sonhos e sua zona de conforto e dizer: “A minha vontade não manda mais aqui”. “Tomar a cruz” não é carregar um pingente no pescoço. A cruz era um instrumento de execução. Tomá-la diariamente significa aceitar que a vida centrada em nós mesmos precisa morrer, todos os dias.
Paulo entendeu isso perfeitamente quando escreveu: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20). O discipulado não é um upgrade para a nossa vida antiga; é um funeral dela.
O Paradoxo Divino: A Vida que Nasce da Morte

Então, Deus quer que a gente viva infeliz e miserável? De forma alguma. E aqui está o paradoxo mais lindo do Evangelho. Jesus continua em João 12:25: “Quem ama a sua vida, a perderá; ao passo que quem odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna.”
A “vida” que Jesus nos chama a perder é a vidinha egocêntrica, ansiosa, frágil e obcecada por segurança e conforto. É uma vida pequena. Ao “morrer” para ela, nós não encontramos o fim; encontramos o começo da vida de verdade. Ganhamos uma paz que não depende das circunstâncias, uma alegria que não vem das conquistas e um propósito que o dinheiro não pode comprar.
Morrer para si mesmo nos liberta da tirania de ter que ser feliz o tempo todo. Nos liberta do medo de perder o que temos. Nos liberta para amar a Deus acima de tudo e às pessoas como a nós mesmos. Encontramos um conforto superior, um descanso para a alma que não está no sofá, mas na cruz de Cristo.
Então… Onde Você Busca Seu Conforto?
A questão nunca foi se ter conforto é pecado. A questão é: onde está o seu conforto fundamental?
Se o seu refúgio final está na sua carreira, na sua família, na sua saúde ou no seu saldo bancário, você não tem um Salvador; você tem ídolos que podem ruir a qualquer momento.
Mas se o seu conforto, sua identidade e sua segurança estão firmados em Cristo e em Sua obra na cruz, você pode ter coisas sem ser possuído por elas, e pode perder tudo sem perder a sua alma.
O evangelho do sofá vai te manter paralisado. O Evangelho da Cruz vai te matar… para que você finalmente possa viver.
E você? Como essa tensão entre conforto e a cruz se manifesta na sua vida? O que é mais difícil para você “negar” por amor a Cristo? Vamos conversar nos comentários, com honestidade e sem máscaras.